É mais fácil ir embora do que ficar
Quando eu empacotei minhas coisas principais e disse “adeus, talvez não volte!” Muitos disseram: “que coragem você tem, largar tudo para trás e ir embora.” E até eu achei o máximo a sensação, sempre me perguntando: “Será que isso é realmente o que chamam de coragem?”
Estou agora, quase 8 meses depois, sentada em minha cama num apartamento do centro de Dublin, escrevendo isso. E lhes digo: ir embora é mais fácil do que ficar. 7 destes 8 últimos meses, morei aqui, neste apartamento que divido com mais duas pessoas, e o quarto com uma delas. E no momento estou vendo minha roomate há 7 meses, empacotar suas coisas e partir. Veja bem, eu só a conheço há alguns meses e ela nem esteve muito presente, uma vez que passava a maior parte do tempo na casa do seu parceiro, com quem está indo morar definitivamente. E o que eu acabei de descobrir é: não é fácil ficar.
Fico imaginando como foi para meus pais me ver arrumar as malas, e sair pela porta sem saber quando iria voltar. Depois de 27 anos, eles tiveram que se acostumar com a ausência dia após dia. Lembro-me de quando estava decidindo sobre a viagem e consultei uma amiga, que por anos morou fora do Brasil e cujo namorado também partiu por uns tempos. Minha maior aflição, naquele momento, era se conseguiria aguentar a saudade, principamente dos meus pais. Lembro dela me dizendo: “Amiga, pode ter certeza que quem fica sofre muito mais.” Eu não tinha entendido isso até agora. Acabo de entender.
Carol, agora entendo o que você me disse.
Veja bem, ela sabia o que estava dizendo, esteve dos dois lados da moeda e poderia me dar uma percepção neutra. Engraçado como a gente só consegue entender completamente as coisas quando as vivemos. Não adianta nada um amigo chegar e contar sua experiência. A gente até tenta absorver o máximo, inclusive eu levei muito em consideração o que ela me disse, ao decidir largar tudo e vir pra cá. Mas, só agora compreendo, na totalidade, o sentimento de ficar pra trás.
Quando você vai embora, a sensação é ótima! Você sente muita saudade, mas a experiência muitas vezes te distrai. Quando eu estava no voo noturno vindo pra cá, acordei de repente e abri o gps do meu assento, vi que estava literalmente no meio do oceano. Comecei a chorar, desesperadamente, pensando: “Meu Deus, o que foi que eu fiz?” Achei que eu era a pessoa mais triste naquele momento. Triste de saudade, de falta, de medo do desconhecido. Mas, agora, fico imaginando como foi aquela noite para minha mãe. Como será que foi voltar do aeroporto para casa, e ver minha cama vazia? Eu não consigo nem imaginar o que ela passou.
Cada dia aqui torna a ausência dos que amamos mais facil de lidar (veja bem, saudade não passa, você aprende a lidar, ainda vou escrever sobre saudade). Você conhece novos lugares, novas pessoas, nova língua, nova cultura. E quem ficou? Continua no mesmo lugar, tentando lidar com a lacuna, a falta de alguém que preenchia um espaço e que levou sua presença para o outro lado do oceano.Hoje passei a ser um pouco menos egoísta. Aprendi que as pessoas que tenho lá nas terras tupiniquins e que me amam de verdade, sofreram e sofrem muito mais do que eu.
Pode acreditar … houve um nó na garganta ao visitar o quarto e ve-lo vazio, para amenizar a falta passei usa-lo so assim me senti melhor, pois estava perto de todas as coisas deixadas para tras.
Amor… te ver indo embora foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz na minha vida. Afinal de contas você é minha princesa, minha menina, a filha que seus pais repartem comigo. Mas no fundo do meu coração, não sei porque (tenho certeza que DEUS sabia) eu tive um pressentimento que seria muito melhor para você e que encontraria seu grande amor. Se lembra? Eu te disse isso quando você partiu. Agora você vive num país muito melhor do que o Brasil e ao lado do seu grande amor. Não é maravilhoso? Saudades…… Palavra única…. “Saudades é o amor que não coube no tempo e decidiu ser eterno”.
Texto lindo Grazi!!